O tempo...
Passageiro, inevitável, o tempo me consome com uma fome voraz, e a cada momento que ele engole um pedacinho meu, eu em desespero inútil tento recuperar, e assim vou me desfazendo, continuamente sob o por do sol daquele fim de tarde nublado. Sim, nublado, mas o sol arriscou ainda alguns raios antes das cortinas se fecharem. Mas voltando a insaciedade do tempo, posso dizer que por muitas vezes fui vítima dessa sede, e ele me consumia assim quase que sempre, ao amanhecer já reclamava pelo seu café da manhã, me mordia, assim de leve... Ele não percebia, mas retirava pedacinhos de mim insubstituíveis, e eu complacente deixava, deixava sabe... Porque para eu era como se me eternizasse dentro dele, e então nós juntos teríamos todo o tempo do mundo... Cego eu pensava assim, enquanto ele me segregava, me desfigurava dia após dia. Foi quando eu percebi, que mais valia para eu aproveitar o tempo que me era dado do que servi-lo de escravo, o tempo não me perdoava por nenhum erro, e olhe que ele vivia errando. O tempo me julgava a cada mero segundo como um carcereiro, prepotente, rigoroso. O tempo nunca me esperou para respirar, para me recuperar de um tombo, não, ele nem sequer olhava para trás. Nunca me deu a mão, nunca me levantou, continuava caminhando na frente e eu que me apressasse para acompanhá-lo. Um dia cansei, cansei de dramatizar esse papel de servo. Quando enxerguei isso? No dia em que enterrei o passado que o tempo fazia questão de esfregar-me no rosto, quando recusei o presente que o tempo me encaixava, e quando passei a arriscar o futuro que o tempo me apontava. Ah senhor Tempo, dizem que você tudo cura né? Mas nada mais justo do que curar aquilo que o senhor mesmo trata de magoar. Suas fases de passado, presente e futuro podem até ostentar a onisciência sobre minha vida, mas o detalhe que não percebeu ainda, é que a vida é minha. Por fim trate de manipular a vida de outro que da minha eu já sei bem como organizar os ponteiros desse relógio.
Diego Anderson M'M'
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Obrigado.. volte sempre que bater aquela saudade...